Minha PrEP história: Pedro (parte 1)
Our outreach worker Pedro talks about everything you can use to prevent HIV and STIs from his own personal experiences in his first My PrEP Story.
My PrEP Story is the personal voice of people who are using, or have used, PrEP, and those who have been at the forefront of providing it and advocating for it. Find out more about their decisions to use PrEP, how they have navigated using PrEP, and their very own PrEP journey.
If you’d like to add your voice to My PrEP Story, check out our helpful guide and email hello@prepster.info
Por ser brasileiro, encontrar meu caminho pelo maravilhoso mundo da saúde sexual no Reino Unido não foi fácil. Especialmente porque quando cheguei aqui não sabia o que era a prevenção combinada, ou seja, não imaginava que poderia receber testes de HIV e DST na minha casa, nem conhecia as siglas PEP, PrEP e I=I (Indetectável é igual a Intransmissível). Muito menos sabia que posso pegar camisinhas e lubrificantes gratuitamente em clínicas de saúde sexual ou pedir pela internet para que sejam entregues a mim. Não ter essas informações logo de cara tornou minha vida muito mais difícil do que deveria ser. Mas onde há dificuldade há aprendizagem, e toda gozada, suor e lágrimas que dei me trouxeram para onde estou hoje – trabalhando com busca ativa para The Love Tank, organização criadora da PrEPster. Sei que existe muita gente por aí que, assim como eu, poderia se beneficiar dessas informações. Então, quais foram as minhas experiências e qual a importância da prevenção combinada?
A primeira vez que usei a Profilaxia Pós-Exposição (PEP) ainda morava no Rio de Janeiro; Saí para jantar com um cara e estava doido para ser a sobremesa. Depois de comermos, ele disse: posso dar uma colherada sem capa nesse teu bolo? Eu disse: sim! Fiquei logo ansioso e pesquisei o que fazer depois transar sem preservativo com alguém que não conheço. PEP foi a solução, um medicamento que pode ser tomado depois de uma possível exposição ao HIV. No Reino Unido o tratamento pode ser acessado em clínicas de saúde sexual e nos departamentos de A&E (Emergência). Você deve começar a tomá-lo em até 72 horas, mas quanto antes melhor. Tomando a PEP direitinho por 28 dias as chances de se permanecer HIV negativo são muito altas. Se você tiver qualquer efeito colateral entre em contato com seu médico – não interrompa o tratamento ou ele poderá não funcionar.
Essa não foi a última vez que alguém comeu meu bolo sem encapar a colher: depois que me mudei para cá fiz, mais uma vez, sexo sem camisinha com um estranho. Depois de transarmos perguntei a ele sobre sua sorologia. Ele disse que era indetectável e que eu não deveria me preocupar. Eu nunca tinha ouvido o termo antes então me preocupei sim. Fiquei confuso e fui buscar por mais informações. Descobri que quando alguém é indetectável o risco de transmitir HIV para outras pessoas é zero. A razão para isso é um tratamento antirretroviral eficaz (ART), você pode ter ouvido falar de TasP (tratamento como prevenção) em vez de I=I.
Nestas experiências que vivi eu sempre colocava a responsabilidade de me manter saudável sexualmente nos outros, mas se quero me manter sadio sou eu que devo correr atrás em vez de esperar que meus parceiros façam isso por mim. A boa notícia é que a PrEP agora é gratuita no NHS (sistema público de saúde da Inglaterra) e, ao tomá-la corretamente, nunca terei que perguntar o status dos meus parceiros sexuais, o que considero muito invasivo. Se você ainda não sabe, PrEP significa profilaxia pré-exposição e é um medicamento que pode ser tomado para prevenir o HIV. O tratamento impede que o vírus se replique no corpo e pode ser administrado diariamente ou (para algumas pessoas, mas não para todas) horas antes de transar com alguém (também conhecido como Event Based PrEP).
A esta altura você deve estar pensando que camisinhas não fazem parte da minha vida, mas se enganou – eu as uso na maioria das vezes que transo e vocês podem usar também! (Se quiserem, claro.) Os preservativos são uma boa maneira de prevenir DSTs como a sífilis, que aumentou novamente no Reino Unido. Eles podem ser acessados gratuitamente em qualquer clínica de saúde sexual, mas se você não quiser buscá-los pessoalmente é possível pedir para que sejam entregues na sua casa (há um link na introdução do texto para pedir camisinhas em Londres).
Apesar dos meus medos, costumava me testar regularmente. Hoje em dia peço, a cada três meses, um kit gratuito de teste doméstico pela internet. Seja qual for a forma de prevenção que escolhermos o teste deve ser uma constante em nossas vidas (incluindo o teste de DSTs, se você já tiver HIV). Com ele podemos parar a transmissão de DSTs e do HIV. Lembrando que todos no Reino Unido têm direito a serviços de saúde sexual gratuitos, independentemente de seu status migratório. A cada seis ou três meses, dependendo do tipo de sexo que você faz e de quantos parceiros você tem, é importante tentar se testar. Ou pelo menos uma vez por ano, mesmo se você sempre usar camisinha.
O que iniciou meu aprendizado da prevenção combinada neste país foi uma mensagem de um cara com quem transei me dizendo que ele havia sido diagnosticado com gonorreia. Ele explicou onde eu poderia encontrar suporte e que era gratuito. Fiquei surpreso e com medo, mas percebi como é fácil me manter sexualmente saudável neste país. Também me senti apoiado pela minha comunidade e, no final, fiquei muito grato pela mensagem que ele enviou.
Acredito que fazer sexo é ainda melhor quando sei que estou no controle da minha saúde sexual e se você também for um imigrante, não se intimide – você não precisa dar seu nome verdadeiro em nenhuma clínica de saúde sexual. Caso esteja perdido, como eu já estive, entre em contato comigo pelo e-mail outreach@prepster.info. Conte com nosso apoio, estamos do seu lado!
— Pedro Lino